Sem adentrar no conceito ampliado de tecnologia, a invenção da linguagem escrita, da luz elétrica, da impressa, do telefone, do rádio, da televisão, do celular, do computador, da internet, enfim, a solução tecnológica de cada época não é sem impacto na vida e nas relações sociais.
Na nossa época, à primeira escuta, quando ouvimos “o impacto da tecnologia nas relações”, logo nos vem à cabeça o que vai mal. Que a tecnologia separou os casais, os pais e filhos… que aumentou a irritabilidade… diminuiu a concentração e capacidade cognitiva das crianças, e mais uma infinidade de consequências.
E sim, ter o mundo na palma da mão, através dos smartphones trouxe esses (e outros) efeitos. A conexão instantânea entre duas ou mais pessoas localizadas em países diferentes; participar de um congresso somente com um clique; pagar um boleto em menos de 30 segundos, seria em si um grande benefício.
No entanto, como faca de dois gumes, esse mesmo benefício, trouxe também a intolerância com aquilo que requer tempo. Assim, o empreendedor quer, na velocidade da conexão, sair do zero ao 1 milhão; e o jovem quer conquistar a pessoa amada sem se deliciar do prazer da conquista, que requer tempo, conversas, risadas, encontros e desencontros.
E não! A tecnologia não encurta todos os processos, alguns vão escapar a essa possibilidade!
E o que resta a nós? Resta ressignificar e saber que algo está nas nossas mãos, mas, há algo que escapa, e que, portanto, traz para a vida as surpresas que nos tiram do prumo e nos fazem ter que recorrer a algo antes impensável.
É também impensável aonde mais as inovações tecnológicas vão nos levar. E ela é um fato em nosso cotidiano. E caberá a cada um se responsabilizar pelos usos que se tem feito disso.
Com relação às crianças e adolescentes, caberá aos seus responsáveis (bem como a si mesmas) se atentarem para os malefícios e benefícios que o uso dos smartphones traz para esses. A neurociência tem apontado, por exemplo, para a importância da escrita a mão para o desenvolvimento e plasticidade neuronal; ou seja, o uso de uma tecnologia não precisa e não pode substituir essa outra tecnologia: a escrita a mão.
Ainda com relação aos jovens é preciso verificar se o uso da tecnologia possibilita, dificulta ou impede o laço social. Porque nem sempre o celular atrapalha o laço, muitas vezes, para alguns jovens é o que possibilita. Alguns autistas encontram, por exemplo, que tem a socialização comprometida, a partir da mediação da tela, uma via de acesso ao outro (que sem um mediador fica muito angustiante para ele). E isso é caso de estrutura psíquica e não de um capricho.
Com relação aos casais, a tecnologia tem permitido encontros inusitados com pessoas afins. Mas, também tem sido gerador de ansiedade quando a resposta à mensagem do Whatsapp não vem. Alguns casais, vão à loucura a partir dessa hiperconexão, como se um e outro não se conectassem ou desejassem outras coisas na vida além do parceiro. É um amor do aqui e agora que sufoca não somente a subjetividade de cada um, mas, sufoca também o próprio amor. E que, com um ser vivo, sem ar, morre.