O carnaval é VIDA, mas em meio a uma pandemia o que mais preservamos é a VIDA. Por isso, precisamos repensar nossos comportamentos e nossas escolhas para celebrarmos com responsabilidade este momento e tantos outros que nos atravessam no dia a dia.
O Carnaval é um período do ano onde a magia acontece. Confete, serpentina e muito brilho transcende uma alegria que contagia o corpo, a alma e o coração. Cultura, saber e ofício se encontram em um mesmo lugar, unindo pessoas de vários lugares e costumes diferentes.
Cada um a seu modo celebra o carnaval, que é uma das festas populares mais conhecidas no mundo ocidental, sendo a maior festividade do Brasil a partir da década de 1930. A essência está nas escolas de samba, maracatu e frevo. Os blocos de rua fazem a alegria do folião nos grandes centros do país e também nas pequenas cidades.
Para quem vive e celebra o carnaval de verdade, na essência da sua cultura, está em conexão com a mãe África. Por mais que os livros didáticos contam que o carnaval é de origem portuguesa, a africanidade está no sangue da população brasileira que não podia pagar para entrar nos grandes bailes e até hoje vive e celebra o carnaval nas ruas.
O som dos tambores, dos instrumentos que movem o carnaval, o ritmo, a energia e a presença intensa e forte da população negra que dança o som da música que toca o coração e ecoam nas vozes nos quatro cantos desse Brasil é a presença viva da cultura africana que pulsa no sangue do povo brasileiro.
O Carnaval no Brasil transforma e move a vida de milhões de pessoas. Se observarmos, as escolas de samba, os blocos, o vendedor, o ambulante, o fornecedor da obra prima e da mão de obra, e tantas outras pessoas, todos se organizam durante meses para apresentar um espetáculo de cores, formas e alegria. E muitos têm trabalho garantido para o ano todo.
Nesse tempo, as pessoas aprendem e ensinam cultura, saberes e ofícios. Empregos são gerados, famílias conseguem colocar comida na mesa, pessoas esquecem por um tempo o turbilhão de problemas e dificuldades do cotidiano. O carnaval é VIDA pra quem sabe curtir e celebrar a folia com respeito, sentido e responsabilidade.
Bloco do Capitão – Oliveira / MG
Os idealizadores do Bloco do Capitão são remanescentes do GRES: Grêmio Recreativo Escola de Samba A Voz do Morro e Fundadores do Encontro de Cultura Afro Brasileira Oliveira. Desde a última participação da Escola no Carnaval de 2006, foram feitas tentativas de retorno ao carnaval sem grande êxito.
E nestes últimos 11 anos, os participantes virão seus fundadores, membros, participantes da Escola e admiradores partirem deste plano terreno. Um dos últimos foi o senhor Lázaro Ambrósio que tinha duas paixões na vida, a Festa de Nossa Senhora do Rosário e o Carnaval.
Uma promessa foi feita a outros antes dele e também a ele, para que fizéssemos algo pelo Carnaval com espaço para crianças, idosos, adultos da cidade. Motivados pelos que estão ainda fortes para celebrarem este momento e movidos por este sentimento maior, pelas alegrias e pelas oportunidades culturais que o carnaval pode promover, decidimos dar os primeiros passos em busca desta vontade.
O nome do Bloco carrega isso uma homenagem a todos os capitães homem, mulher, os comandantes de ontem e de hoje dos grandes carnavais, os capitães das famílias, os capitães da alegria, os capitães da fé, os capitães da vida. Aqueles que comandam no carnaval ou em qualquer outro tempo, a vida com garra, determinação e alegria do fazer e fazer bem as coisas da vida.
Fizemos um convite a Cantora de Samba da Região Centro-Oeste Tia Elza para apadrinhar nosso bloco e desde então ela é uma atração a mais no Bloco. O foco do Bloco e manter viva a tradição carnavalesca por meio da cultura afro brasileira e afrooliveira.
Nos últimos dois anos somamos forças ao desfile de dois outros blocos da cidade dentro do carnaval o Bloco Loucos Varridos em 2018 e apoiamos a estreia do Bloco Afro Jacula N’exila em 2019.
Somos hoje um dos projetos integrantes do Encontro de Cultura Afro Brasileira Oliveira listados dentro do coletivo como ação artística de formação, promoção e disseminação da cultura carnavalesca.
Por Ana Fabrícia Silva / Comunicóloga Social – Jornalista e cofundadora do Encontro de Cultura Afrobrasileira Oliveira
De Entrudo para Carnaval
No século XVII, os portugueses trouxeram para o Brasil uma festa popular chamada Entrudo. Tal festa era basicamente formada por brincadeiras, como sujar e molhar as pessoas com água, limão, farinha, terra, vinhos, sucos e coisas em estado de putrefação.
A partir de 1870, o Entrudo vagarosamente deixou de ser festejado dando lugar ao carnaval. Eram bailes e desfiles glamourosos, cuja inspiração era buscada na Europa. Tal substituição priorizou a classe bem sucedida da população, que compunham a maior parte dos festejantes do Entrudo, não tinham condições de pagar os altos valores cobrados nos clubes e bailes. Lugar que, pela realidade social e econômica da maioria da população não era frequentado por pessoas negras e pobres.
A classe baixa então buscou realizar suas festividades nas vias públicas com a construção de blocos, grupos de maracatus, frevos, até que, em 1928, surgiu a primeira escola de samba: a Deixa Falar, que posteriormente recebeu o nome de Estácio de Sá. A partir desse período, o carnaval de rua foi priorizado nas grandes cidades brasileiras.