Pesquisas evidenciam que os homens procuram menos serviços de saúde, são as principais vítimas de homicídios e acidentes, são os que mais se suicidam, na expectativa de vida são os que vivem menos comparado as mulheres. Estes são alguns exemplos que denunciam a necessidade de reflexão acerca da construção social e pessoal das masculinidades e sua relação com o cuidado da saúde.
As masculinidades são múltiplas, assim como são diversos os modos de construção do que é masculino e do que é ser homem. Embora a construção seja pessoal e individual, não se deve desconsiderar que ela ocorre numa cultura que impõe e espera dos homens determinadas características, comportamentos e traços identitários. Em nossa cultura, as masculinidades se constroem, sobre referenciais de virilidade, força, agressividade e violência, e aos homens são ensinadas a negação da sensibilidade, anulando expressões de sentimentos, emoções e fragilidades.
As imposições que ocorrem desde muito cedo nas vivências dos homens e o constante investimento em sustentar essa masculinidade pode acarretar implicações na saúde, tanto física quanto mental, uma vez que anulam a singularidade dos homens e a possibilidade de construções outras para o masculino. Muitos homens se veem na necessidade de provar que são homens, de manter a honra, de não levar desaforo para casa, entre outras coisas que podem representar exposições a situações de riscos e violências, além de se constituírem pressões que podem sufocar e dificultar a qualidade de vida e a autonomia.
A exigência social de um autocontrole da expressão de determinados sentimentos, principalmente que representem fragilidade, como muito se houve “homem não chora”, pode acarretar dificuldades na expressão de emoções e sentimentos, ou até mesmo na incapacidade de nomear o que sente, além de repercutir na incapacidade em solicitar ajuda e expressar dificuldades, medos e fraquezas.
Além da repercussão na saúde mental e emocional, no campo do cuidado à saúde do corpo homens se negligenciam com base na sentença “não é coisa de homem”, tomemos o famoso exemplo do exame do toque retal para identificação de câncer de próstata, no qual o preconceito e a ideia de masculinidade são os principais dificultadores na realização do exame e, consequentemente na identificação precoce e no rápido tratamento.