Trago mais uma reflexão para nós. Hoje quero falar sobre competitividade infantil. É saudável? É positiva? Faz parte do desenvolvimento? Atrapalha na socialização? Quantas questões podemos levantar diante desse tema! Mas gostaria de fazer algumas pontuações sobre o assunto.
Vivemos em um mundo capitalista, onde somos colocados numa posição de fazer e acontecer para não ficarmos para trás, onde participamos de um sistema em que o Ter obrigatoriamente tem que sobressair ao Ser. E, com isso, as crianças, quando nascem, já são inseridas em um ciclo no qual ficar em segundo não é o resultado esperado. Esperado por quem? Pelos pais, pela família, pela sociedade, por eles mesmos… Não sei. O que percebo é o mal-estar que todos os envolvidos vivenciam nesse momento de frustração.
Cria-se uma competição nas brincadeiras, que poderiam ser divertidas; nas escolas, que poderiam ser um local de aprendizagem e socialização; na família, que poderia ser um ambiente de afeto e amor. E, diante dos fatos, será que realmente estamos preparados e/ou queremos competir? E as nossas crianças e adolescentes? Será que estamos os colocando em um lugar que não lhes cabe?
Fico refletindo: aprendemos que o mundo é competitivo e que sobrevive quem ganha. E sabemos que nem sempre ganhamos, que sofremos, nos angustiamos e nos frustramos. Não ficamos confortáveis. E ensinamos exatamente esse processo para nossas crianças, sem sequer compreender, ouvir e acolher o desejo delas. Colocamos o que achamos certo, o que será bom para elas, diante do nosso desejo, de nossas percepções e projeções.
Aí é que temos que ter cuidado. Não devemos nos projetar nas crianças. Não são somente os nossos desejos, frustrações, erros e perdas que orientarão nossos pequenos, mas também a essência e o desejo de cada um deles.
E, com essa reflexão, podemos entender melhor a questão da competição. Se ela for disputada com desejo próprio, com afeto, confiança, apoio, compreensão e, principalmente, com amor, talvez se torne saudável.
Talvez o mais importante não seja apenas competir ou não, mas sim como e por quê. Estamos incentivando nossas crianças a desenvolverem suas habilidades e descobrirem seus próprios caminhos, ou apenas impondo nossas expectativas e medos? A competição, quando vivida com equilíbrio, pode ser um aprendizado valioso, mas sem escuta, acolhimento e respeito ao desejo de cada um, pode se tornar um peso difícil de carregar. Que possamos refletir sobre o que realmente queremos ensinar e quais marcas queremos deixar.
Autora: Anelise Pires